sábado, 24 de julho de 2010

Entre o tigre e o bicho-preguiça

O cérebro humano produz um paradoxo: preguiça e impaciência são duas faces da mesma moeda

Por Edição Edson Porto com Álvaro Oppermann

Que razão nos leva a adiar tarefas importantes até o último minuto? Pense na declaração do Imposto de Renda. Ou na aflição mental para concluir um relatório na empresa. Racionalmente, diante de uma tarefa penosa, o mais adequado seria enfrentá-la rapidamente, e passar adiante. Mas não é isso que ocorre para a maioria, em graus variados de indolência. A raiz deste comportamento parece contraditória: procrastinamos porque somos impacientes. Cientistas agora estão revelando que existe uma relação entre a impaciência e o retardamento no cumprimento de deveres. “É mesmo um paradoxo”, diz Paola Sapienza, professora da Northwestern University e autora de um estudo sobre o assunto. Na balança entre custos e benefícios pessoais, os indivíduos impacientes têm a tendência a conferir maior peso aos custos imediatos do que aos benefícios futuros. É isso que nos leva, em maior ou menor medida, a procrastinar. Um dado neurológico curioso é que a resposta do cérebro às duas emoções – a impaciência na espera de um acontecimento e a letargia e o desânimo de ter de fazer algo desagradável – é processada, de acordo com Paola, nas mesmas regiões: o estriado ventral e o córtex médio pré-frontal.

Uma parte do cérebro é um tigre (uma das espécies mais impacientes do reino animal). A outra, um bicho-preguiça. Para testar essa hipótese, pesquisadores criaram um teste, no qual o prêmio aos participantes era dado não em dinheiro, mas em cheque, que teria de ser descontado. A janela de tempo para descontar os cheques mostrou que os indivíduos impacientes levaram mais tempo para ir até o banco.

A equipe de pesquisa deu duas alternativas aos participantes: receber o valor integral do prêmio – US$ 260 – num determinado dia, ou um valor menor, numa data antecipada. Quanto mais antecipassem o recebimento, maior era o percentual de desconto, que chegava a 50%. Dois terços dos participantes que resolveram antecipar o cheque acabaram levando quatro semanas para ir até o banco sacar o prêmio. Já os que escolheram receber o valor integral (sem demonstrar impaciência na espera) descontaram seus cheques no prazo médio de uma semana. “Isso sugere claramente um nexo entre impaciência e procrastinação”, diz a especialista.

Por que esse fenômeno ocorre? Como conclui a pesquisa, trata-se da reatividade, ou irritabilidade, mais acentuada nos tipos procrastinadores/impacientes. “Eles antecipam mentalmente de forma mais vívida a recompensa de receber o prêmio, mas também a chateação de ter de ir ao banco”, diz Paola. Isso os levou a desejar o prêmio já! Mas na hora de ter de ir sacá-lo, também antecipam mentalmente a desanimadora fila no caixa.

Nosso cérebro é pendular, variando do tigre ao bicho-preguiça. O difícil é aprender a domá-los. Como fazer isso, as pesquisas ainda não mostraram.

Córtex – O córtex cerebral corresponde à camada mais externa do cérebro. Rico em neurônios, é o local do processamento de informações mais sofisticadas, como a linguagem e o raciocínio lógico. A palavra córtex vem do latim “casca”

Fonte: http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI137067-16366,00-ENTRE+O+TIGRE+E+O+BICHOPREGUICA.html

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