segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Entrevista com Júlio Ramos, ex-prefeito de Triunfo na década de 70 e 80 #1


JET - Primeiro obrigado por conceder essa entrevista. O Sr. Participou ativamente da nossa história política nas décadas de 70 e 80, o que o levou a entrar na carreira política?
Júlio Ramos - Eu nunca tive ideia de política, eu era vereador e nunca gostei de política. Fui candidato através de amigo. Eu tinha um amigo que se viu numa situação, gostava muito de política e viu que ia perder então eu era muito querido, de muitos amigos, diante a minha arte de trabalho de mecânico, que eu atendia muita gente, e o pessoal gostava muito de mim e ele viu que se me lançasse a prefeito justamente ele ganhava a eleição, eu ganhava. Então ele pelejou pra eu ser candidato, e eu sem querer, me afastando, até que eu fui obrigado a aceitar. Então eu aceitei, justamente fomos lutar, era um candidato muito forte (o adversário), uma pessoa muito rica, e quem me apresentou (Artur Viana), era rico mas não parecia, não tinha quem dissesse, mas ele tinha muito dinheiro que quando ele faleceu apresentaram a riqueza dele. Ele não queria gastar, eu não tinha nada. Ganhamos a eleição com o apoio do povo. Aí pronto, eu fui governar o município. Nessa altura eram 4 (quatro anos), eu não sei porque o governo teve uma ideia que não sei se foi pra igualar um problema de eleição ou porque era uma época ruim, que foi uma época de 7 (sete) anos de seca, agente governou 6 (seis), fui prefeito 6 (anos), de 1976 à 1982.

JET - Quais foram os momentos mais marcantes da sua trajetória?
JR - Esses momentos aí eu vou dizer, que o momento mais marcante, eu que não era um homem culto, e justamente eu desempenhei o meu cargo. Nas secretarias, agente ia, lá tinha um órgão que se chamava AFIAN que era onde liberava o dinheiro e tinha um projeto que se chamava Asa Branca, e todo mundo, aqueles formados, se acanhavam em falar, e eu nunca me acanhava, e justamente os trabalhadores, quem trabalhava nessa época, o pessoal pobre, era pra amparar o pessoal que naquela região estava precisando ganhar alguma coisa pra não passar fome, mas eu só trabalhava com dinheiro adiantado. Aí eles (AFIAN) achavam ruim por isso, eu dizia “eu entrego a prefeitura, eu entrego tudo, agora eu não sei”. Eles diziam “Ah! Só pode liberar o dinheiro quando prestar conta” e eu “A prestação de contas vem, mas agora agente só pode fazer também a prestação de conta quando pagar a todo mundo, agora só se pagar a todo mundo, mas se o povo ficar trabalhando e agente sem pagar é que não tem condição”, eles achavam interessante isso e quando eu chegava por lá eles diziam: “Olha ele já vem ali e ele já quer dinheiro adiantado”, e eu dizia: “Já tão adivinhando”, e assim eu consegui, os outros não conseguiram, eu não sei por que e eu conseguia isso.

JET - E a estrada de Triunfo a Serra Talhada?
JR - Sim, então teve esse problema também, essa estrada, esse asfalto de Triunfo a Serra Talhada. Ela começou e só chegou até um lugarzinho chamado Malhada Dura, onde seu Zé Raimundo (vereador de Serra Talhada) mora. Passou-se 10 (dez) anos, e quando eu fui prefeito eu disse ao meu assessor, Artur Viana que foi o ex-prefeito “Vamos mexer com o negócio dessa estrada” e ele disse: “Vamos embora!”. Eu disse: “Isso já caducou demais num é”, ele falou: “Vamos, mas eu já cansei e já pelejei toda vez e nunca me esqueci disso não”. Eu não sei dizer o porquê que eu tive sorte, ele cansou de pedir e eu fui lá, dessa vez ainda me lembro que o secretário dos transportes, era o Dr. Luís Siqueira, falei com ele e ele disse: “Vou colocar no plano”, aquela coisa toda, falou até assim: “E eu quero até comprar uma propriedade em Triunfo”, aí o juiz de direito Dr. Ruy disse assim: “Vou vender minha propriedade, aquela casa lá de baixo, no pé da serra”. Quando o secretário disse que ia pegar um dinheiro ali eu disse: “Ruy, você tá pensando que esse homem é maluco? Não vai mandar olhar a casa?”, ele falou bem assim: “Vai mandar lá nada”, “Vai rapaz” eu falei, “Só assim agente arruma a estrada, por que ele quer vir passear, comprar terra, quer vir, aí agente arruma a estrada”, Ruy falou. Ele pediu dinheiro demais, aí ele mandou fazer um levantamento, quando chegou ele foi lá e disse afinal: “Não, eu queria comprar uma propriedade, mas não é pra fazer remédio não, a terra”. E falei: “Eu não te disse!”.
Aí pronto, houve um problema com ele (o secretário) que se afastou, ficou outro. Um dia eu estava em Recife com Artur, ele me disse: “Olha, parece que já entrou o outro secretário, vamos passar lá”, isso era tarde, 8h30min (oito e meia) da noite, “Rapaz e tu vai passar na secretaria a essa hora?”, Ele disse: “Aí é direto, diariamente, não fecha”, chegando lá estava ele e o assessor. Falei com ele, ele disse: “Olhe é o seguinte, eu não sei lhe dizer nada por que sou marinheiro de 1o (primeira) viagem, tá aqui o meu assessor”, e eu disse: “é dois, que eu também sou”. Ele disse: “Vamos olhar aqui no mapa”, deixa que já tinha fugido do mapa há muito tempo, aí eu disse: “Mas rapaz, nem no mapa está mais” e ele: “Mas eu vou colocar ela no mapa, também eu nunca agradei você”, falei: “Olhe, essa estrada de Triunfo, contei a história a ele, não é uma vaidade de um município precisar de uma estrada asfaltada, por que lá só tem uma estrada que vai por um lugar chamado brocotó e foi tirada essa era mais perto, aí ficou pior, ficou a poucos quilômetros de Serra Talhada e tá lá com 10(dez)  anos e não conseguiu nada”, ele falou: “E nisso vou ver aí, você sempre apareça aqui”, e todo mês eu ia pra Recife, aí ele me disse: “Eu vou pra Brasília, me faça uma cartinha ao ministro dos transportes, agora faça pra chegar lá tal dia e essa carta tenha chegado uns dois dias antes, mais ou menos assim, e esteja recente que não dá tempo engavetar”, eu disse: “Tudo bem! Seu secretário, por favor, me faça um rascunho, que eu completo resto”. El e imediatamente fez. Quando cheguei em Triunfo, mandei fazer a carta e enviei no dia certo que ele marcou, quando chegou lá ele falou ao Ministro sobre a estrada e ele falou: “Por sinal, eu recebi aqui uma carta desse prefeito, dessa cidade, Triunfo de Pernambuco”,  ele puxou da gaveta e estava lá, ele falou: “É essa aqui?” e o secretário: “ë essa mesmo, esse prefeito se interessa muito por isso, vamos ver o que é que se faz ”.
No dia que ele veio de Recife, veio bater em Triunfo, deu-se um caso muito interessante, que o delegado de Triunfo gostava muito de fazer umas brincadeiras assim, e ele morava vizinho comigo, e me chamou, disse assim: “Olhe! Domingo tem alguma vigem pra você?”, eu disse não, “Então vamos almoçar lá em casa.”, eu disse “Vou”, “Você, Artur e tudo” ele chamou. Estávamos até tomando uma caninha, tinha uma paneladazinha, agente tomou uma caninha. Estávamos lá, aí as meninas chegaram e disseram: “Pai, tem um cidadão lá em casa procurando o senhor”. Ele disse: “É vizinho daqui? Eu vou lá”. Quando se apresentaram, nós estávamos tomando cana, era ele(o delegado), o secretário e o prefeito tomando cana. Eu disse: “Seu secretário, foi um prazer, o Sr. Por aqui, estamos aqui na casa do delegado, ele nos convidou pra comer uma panelada e isso aqui só vai com uma caninha”. O delegado o convidou pra almoçar, mas ele disse assim: “Olhe, é que nos já estamos ali no hotel, e nós vamos voltar por que já dissemos que íamos almoçar, se não agente fazia parte também, mas bom apetite”, eu disse então: “daqui a pouco estamos por lá”. Ele veio conhecer a estrada e tudo, e me contou, estivemos lá com o Ministro, e para o mês eu vou de novo com outra carta, no mesmo período, que quando eu chegar lá eu quero achar a carta. E pra encurtar a história foram 3 (três) cartas, Ele cegava e achava. Sendo assim ele me disse: “O negócio parece que vai ter caminho, quem é um deputado que você trabalha? Que você possa ir lá?”, eu disse: “Tem fulano de tal”, eu já pelejei e não me lembro, era um camarada que foi criado por Zé Bodim, aquele “ricão” lá do Recife, foi quem inventou aqueles negócios de supermercado, agora eu esqueço dele, que falava rouco, era um cara disposto, danado. Eu falando e ele disse: “Vamos tal dia”. “Vamos qualquer hora”, eu respondi , até que um dia ele ligou, e Artur disse: “Se prepara que fulano de tal ligou”, eu cheguei tal dia num sábado “Ligou pra você estar em Brasília amanhã”, eu disse: “Amanhã já? Como é que pode?”, nisso ele me disse: “Você desce agora pra Recife e de lá pega um avião”, e eu: “eu nunca nem andei de avião”, ele continuou: “e vai pra lá, pra Brasília, eu lhe ensino tudo, pra onde é que você vai”, aí eu disse” Então tá certo”. Fui, e fiquei procurando avião até de madrugada, eu ia e diziam: “Mais tarde você volta, não tem voo direto”, até que disseram: “Tem voo pra salvador e de Salvador tem pra Brasília”. Essa viagem foi até muito interessante, quando cheguei em Brasília, peguei minha mala, e fui saindo, chegando na fila das malas vinha um cara de fora e o guarda o condenou por que ele avançou então o escanteou por ter furado a fila, ele ficou lá triste. Depois vinha um cidadão com um garoto chorando e essa coisa toda, e lá vai, ele disse: “Meu amigo, o senhor faz questão que eu passe na frente?”, eu disse: “Não, que eu vou qualquer hora, não tem problema não, você tem que pegar a fila pra sair né.” Eu fiquei com dó do camarada triste fora da fila e eu disse: “Seu guarda, tem problema se eu pego aquele saco daquele rapaz que foi escanteado?” ele disse: “Não, você só tem quer ir buscar lá onde ele está.” Eu disse: “Oxente, daqui pra ali?” veja mesmo, eu fui e peguei e saí com ele, ele disse: “Pra onde é que você quer ir?”, “Eu tô indo pra o hotel Casa Branca”, ele disse: “Sei tudo onde é. Você Conhece Brasília?”, aí comecei a andar com ele, e ele mostrando Brasília, e com um cheirinho de cana, eu até pensei “Esse caba parece que é dos meus”. Chegando lá ele disse: “É aqui, o que é que você vai fazer agora à tarde?”, falei: “Vou tomar um banho, vou almoçar e depois posso dar uma voltinha por aí”, ele falou: “Se vai dar uma voltinha, veja bem, vou aguardar você aqui”, eu disse: “Pois aguarde”. Saí com ele, era aquela época que pra se botar gasolina no carro eram 4 (quatro) Km da cidade. Fomos botar gasolina lá em tal canto e fui conhecendo, começou a rodar, nisso ele me disse: “Olhe vou levar você lá numa lanchonete, num paraibano na beira de um lago, que lá você vai almoçar e eu não fico com você, que qualquer pessoa que leve pra lá tem direito ao almoço, se não quiser outro dia vai, recebe um cartão e almoça. Pode levar 1 (uma) pessoa, pode levar 10 (dez), pode levar o que quiser.”, eu disse: “Tudo bem”. Ele ficou assim perto, eu almocei e tudo, foi Juscelino quem presenteou esse paraibano, é coisa muito chique lá. Ficamos lá, topou comigo quando estava botando gasolina, ele disse: “Vou resolver um negócio aqui com um rapaz”, saiu e deixou um cara botando gasolina. Quando ele saiu eu tinha pagado a gasolina, quando chegou disse: “Mas rapaz, você já pagou”, antes disso ele me chamou: “Você bebe uma cerveja? Um quentão?”, “Qualquer coisa” eu disse, então Le disse: “Vamos beber um negócio aqui”, e tinha um tira gosto. Depois, esse cara era casado com uma pessoa muito amiga minha ali de Calumbi, depois apareceu pra ir almoçar na casa dele um fim de semana, que ele trabalhava no Detran, quando eu fui pedir licença no Detran o chefe disse e eu sem descobrir quem era, vim descobrir quase no dia que eu vinha embora.
Fui no negócio lá do Ministro, mas antes disso, tem um projetista que agente, qualquer prefeito que vai lá, pedir como quem pede a Deus, pedir projeto perguntou: “O que você deseja pra Triunfo, de escola, o que você quiser de bom, praça e essa coisa toda você pede, eu elaboro o projeto e tudo.” Passei um dia todinho elaborando projeto, de escola, de futebol, dessa coisa toda, ainda ganhei aquela escola de onde eu loteei, lá em cima hoje é o bairro do Rosário. Ele falou até assim: “Do que sair você paga tantos por cento, se não sair nada você não paga nada, mas de qualquer um projeto daqueles que sair você paga tantos por cento , já vem descontado”. Quando chegamos pra falar com o ministro, ele era um cara disposto, ele chegou e falou: “O ministro”, “Ele não está aqui”, “Ele não está aqui?”, ele falava bem grosso, “Tá não”, “Como é que ele trata e não está? Que caba safado!”, ele disse logo assim “Esses políticos, são uns políticos safados”, e saiu, topou com um colega e perguntou: “O que é que tu anda fazendo por aqui?”, “Eu vim pelo lado de trás, que lá na secretaria a secretária disse que não dava, tu num sabe a manobra desse povo.”, daí ele chegou lá e “vrrrrap”, quase que derruba a porta pra dentro  e disse: “Bom dia!”, ele falava bem grosso. Eu disse: “A tua secretária disse que você não estava aqui, eu já ia embora”. Ele deu uma gaitada (risada), olhou pra ela e disse: “Diga nada não.”, ele é um cara disposto danado, me apresentaram: “Pronto, esse é o prefeito de Triunfo.”, e contou a história, ele disse: “Tudo bem senhor prefeito, vou ver o orçamento.”, olhou as coisas da cidade, essa coisa toda e disse: “Olhe o orçamento lá é de 60 milhões.”, inclusive era no cruzeiro, eu vou liberar 40 (quarenta), agora 20 (vinte) você se vire com o governador.” Eu disse: “Tudo bem.” Daí viemos embora. Quando eu cheguei o governador ia dormir em Triunfo. “O governador vem dormir em Triunfo hoje que vai inaugurar um negócio lá e Petrolina”, nesse tempo rodavam e iam dormir em Triunfo por causa do hotel. Nisso eu disse: “Eita, vamos nos reunir.” Chamei os vereadores, chamei aquele pessoal, “Vamos pressionar o homem.”, Cheguei lá, contei a história pra ele, puxei a documentação e ele disse: “Tá liberado os 20 (vinte).” “Agora vamos procurar o pessoal, a firma pra ver quem ganhava a concorrência pra trabalhar.” Mas no fim o pau quebrou em Marco Maciel que gastou foi cento e tanto, por que na minha prefeitura eu comecei com Lula Cavalcante, Marco Maciel e terminou com Zé Ramos, peguei 3 (três) governadores. Eu sei que resolveu o problema da estrada e deu tudo certo.

A segunda parte da entrevista pode ser vista aqui: Parte II

3 Comentários:

Carlos Almeida disse...

Que bacana! Eu nem sabia que esse Sr. existia, mas devo a ele minha ida diária com menor poeira pra Serra Talhada! Obrigado seu Júlio!

Anônimo disse...

Ta velhinho seu júlio...

Anônimo disse...

TEMPOS DIFICEIS ERAM AI, NAO TINHA ESSE ESTRONDO DE VERBA QUE TEM HJ, ALI ELES TINHAM Q RALAR MUITO PRA CONSEGUIR AS COISAS. ESSES POLITICOS DE HOJE TINHAM QUE SE INSPIRAR NESSES DE ANTIGAMENTE QUE ENTRAVAM NA POLITICA POR PAIXAO, NAO POR DINHEIRO, MUITOS SAIRAM MAIS POBRES DO QUE ENTRARAM COMO O PROPRIO JULIO RAMOS.

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