Atire a primeira pedra quem nunca ficou, no mínimo, curioso para saber quem é aquela amiga ou aquele amigo do(a) companheiro(a) que manda recados afetuosos no Orkut ou no Facebook. Curiosidade pode não ser pecado nenhum, mas, muitas vezes, vira um problema no relacionamento. Pesquisas de comportamento na internet mostram que xeretar a vida do parceiro no mundo on-line é mais comum do que se pensa. A mais recente delas — um levantamento informal promovido pela gigante Intel — revelou que 30% dos internautas assumem a prática. Outro estudo, organizado pela TNS Research, é ainda mais impressionante: os resultados indicaram que 62% dos brasileiros checam o perfil do(a) namorado(a) em redes sociais. Curiosamente, o percentual pula para 67% quando se trata do(a) ex.
Tamanho interesse pela vida do outro, aliado à exposição em sites de relacionamento, acaba refletindo nas separações. Não há pesquisas acadêmicas sobre rompimentos e redes sociais, mas um escritório de advocacia britânico apontou como os dois fatores estão cada vez mais unidos. No fim de 2009, um em cada cinco processos comandados pelo Divorce-Online trazia a palavra “Facebook” nos autos. “Com a internet, aumentou o nível de imaginação sobre o espaço do outro em que você não está presente”, aponta a psicóloga Andréa Jotta, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP).
Segundo a pesquisadora, a falta de respeito às regras de convivência no mundo on-line provoca uma confusão sobre o que é afeto e o que é poder em uma relação. Prova disso são os parceiros que vasculham a web atrás de informações sobre o outro e as usam em momentos de discussão. “O carro-chefe dessas bizarrices é o famoso ‘quem procura, acha’, algo que acaba minando qualquer namoro ou casamento”, diz Andréa. Para se ter uma ideia de aonde isso pode chegar, os psicólogos do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática atenderam um casal que estava sem se falar depois que a esposa seduziu o marido com conversas usando um perfil falso no Messenger. Eles marcaram um encontro presencial e foi ele quem acabou se sentindo traído.
Outro hábito sedutor para os ciumentos é invadir o e-mail do(a) companheiro(a). A estudante Francine*, 23 anos, teve a senha roubada pelo namorado por duas vezes. O desrespeito do rapaz, por pouco, não levou ao fim do relacionamento. “Deixei de entrar no meu e-mail no computador dele. Não que eu esconda alguma coisa, mas é muito ruim ter alguém duvidando de você. Sem falar que, ao entrar na minha conta, ele estava violando a privacidade dos meus amigos também”, lamenta a jovem. Francine, no entanto, acabou fazendo o mesmo com o namorado. Ao descobrir a senha do Twitter dele por acaso, não resistiu e acabou lendo “conversas suspeitas” trocadas via Direct Message (DM). “Não me senti culpada. Ele já fez a mesma coisa comigo, (então) abre portas para que eu também faça”, justifica.
A psicóloga da PUC de São Paulo alerta que esse tipo de hábito não é apenas nocivo ao relacionamento. “Entrar no e-mail de outra pessoa sem permissão é crime, mesmo que essa pessoa seja o seu namorado”, lembra. Para evitar problemas, Andréa Jotta aconselha que o casal fale abertamente sobre o assunto, algo que pode ser mais complicado para pessoas que já estão juntas há muito tempo. Parceiros anteriores ao boom das redes sociais têm mais dificuldades em estabelecer o que pode ou não no mundo virtual. “Esse processo é mais natural para casais formados nos últimos 10 anos. O acordo sobre comportamentos aceitos na internet ocorre junto a outros combinados sobre fidelidade”, diz Andréa.
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