terça-feira, 29 de novembro de 2011

Paisagens zen na obra de Jobalo


Do Jornal do Commercio

Ao escolher o nome da exposição na Dumaresq Galeria de Arte, o artista plástico Jobalo não quis entregar o universo de suas novas obras. Diferentemente das duas últimas mostras realizadas no Recife (Bem-te-vi, em 2008, na qual retratou pássaros, e As rosas não falam, de 2006, marcada por motivos florais), o pernambucano optou por uma referência sutil à temática da inédita série de quadros, intitulando-a de Aoá.

Aoá é uma maneira mais simples de dizer “ao ar”, nas palavras do artista, radicado há 14 anos na Itália. “Quis um termo que não dissesse nada”, explica. Apesar da áurea misteriosa, a nova exposição de Jobalo continua partindo da natureza como eixo central, assim como seus trabalhos anteriores, para refletir sobre várias questões, entre elas a origem do pintor, por exemplo.

Em Aoá, o pernambucano constrói uma ponte entre as temperaturas quentes do lugar onde nasceu (o município de Triunfo, no Sertão do Pajeú, em Pernambuco) e o frio característico dos meses de inverno que ele tem sofrido ao viver em um bairro periférico da cidade de Milão.

Para representar as correntes de ar desses lugares distantes, Jobalo investe, principalmente, em paisagens para compor as novas pinturas. “Elas são muito presentes na arte zen e se tornaram constantes na minha obra, porque ao mesmo tempo em que você entra dentro de uma paisagem, ela também entra dentro de você”.

As paisagens construídas pelo artista ganham destaque nas telas a partir dos pigmentos metálicos utilizados. As técnicas desenvolvidas com esse material já tinham servido de mote para a mostra Óxidos, na qual o pernambucano se debruçou sobre os processos de oxidação de diferentes matérias.

Refletindo bastante a luz, esses pigmentos em tons prateados e acobreados contrastam com os horizontes sombrios que nascem a partir das pinceladas de nanquim de Jobalo. O resultado é uma atmosfera de deslocamento, ora marcado por sombras de cajueiros, ora por galhos de uma trepadeira morta notada pelo artista nas ruas de Milão.

Os dois andares da Dumaresq abrigam 15 quadros assinados por Jobalo. A série Aoá, entretanto, conta ainda com mais outras 15 telas, que puderam ser conferidas no Espaço B-Arco, em São Paulo, durante a Balada Literária, cuja programação chegou ao fim no último domingo.

Entre as obras expostas no Recife, Azuma é uma das preferidas de Jobalo, e também uma das que mais chamam atenção na galeria. O trabalho nasceu após o artista assistir um documentário sobre a vida do escultor japonês Kenjiro Azuma.

“Ele foi preparado para atuar como piloto camicase na Segunda Guerra Mundial, só que o conflito acabou antes de sua participação. Então, ele entrou em depressão porque não morreu e foi para a Itália, onde se descobriu como artista. A simplicidade e a comunicação imediata de sua arte zen me interessam muito”, conta Jobalo.

O pintor também valoriza a intervenção da natureza na realidade ao seu redor. Exemplo disso é a tela Caboclos romanos, na qual parte do monumento Arco della Pace (Arco da Paz), localizado em Milão, para criar relações entre as diferentes árvores que fazem parte do cenário, fugindo de uma representação óbvia de um endereço comum a cartões-postais.

Esse recente recorte da obra de Jobalo todas as telas da exposição foram produzidas durante esse último ano ainda não tem data para ser mostrado na Itália, mas já despertou o interesse de compradores por lá. “Por mais que eu fale sobre os quadros, não vou dizer o que as pessoas vão sentir ao vê-los. Para sentir, é preciso contemplar”, finaliza o artista.

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