segunda-feira, 6 de setembro de 2010

SIGISMUNDO PINTO, A VOZ DO SERTÃO E A IMPRENSA DE TRIUNFO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO PASSADO

Copiado do blog Boom Triunfo Boom, como forma de passar adiante o conhecimento da história de nossa cidade.

Por André Vasconcelos

De maneira a parabenizar e apoiar o excelente trabalho iniciado neste blog por Robério Vasconcelos a respeito do jornal triunfense A Voz do Sertão, quero contribuir trazendo mais algumas informações sobre o jornalista Sigismundo Pinto e a imprensa em Triunfo na primeira metade do século passado, a qual foi, sem sombra de dúvidas, a mais representativa do sertão pernambucano.

O escritor Luis Wilson (outro que carece ser lembrado, merecedor de homenagem), grande pesquisador das personalidades do sertão, em seu livro Roteiro de Velhos e Grandes Sertanejos relata que Sigismundo Pinto se constituiu num dos mais importantes capítulos da história da imprensa do Sertão de Pernambuco. Luis Wilson nos conta que Sigismundo era paraibano, tendo nascido no dia 18 de abril de 1903, na Fazenda Jenipapo, município de Misericórdia, hoje Itaporanga, sendo filho mais velho do casal Gratulino Pinto Brandão e D. Clotilde Fiúza Chaves. “Mostrou desde cedo tendência para as letras e para o jornalismo. Ainda garoto em sua cidadezinha, editou uma “folha” (manuscrita) com os seus primos José Gomes da Silva (depois Secretário de Estado e Interventor Federal na Paraíba) e o Dr. Praxedes Pitanga (mais tarde Deputado Federal)... Em Campina Grande (antiga Vila Nova da Rainha) aprendeu Sigismundo contabilidade, sendo provisionado depois em perito-contador, profissão que exerceu até o fim da vida. Mais tarde, ainda, com a intenção de ingressar na Faculdade de Direito do Recife, transferiu-se para João Pessoa, lugar em que estudou no Liceu Paraibano, começando, de fato, naquela época, sua carreira de jornalista como revisor e depois redator de A Tribuna da Imprensa. Várias vezes interrompeu seus estudos e voltou à Misericórdia à chamado da família, por questões de lutas políticas locais. Em 1930 pegou em armas contra o Cel. José Pereira Lima, foi ferido e resolveu, então, deixar a Paraíba, vindo para Triunfo (PE), onde passou a ser contador da firma Carolino Campos, seu parente e de quem se tornou grande amigo. Ali fez parte do corpo de redatores do jornal O Imparcial, de Carolino (Duduzinho), alto comerciante, industrial, um dos chefes políticos e várias vezes prefeito do Município. Quando aquela folha deixou de circular em 1933, resolveu editar o seu próprio jornal – A Voz do Sertão – cujo primeiro número data de julho de 1934 e que, independente, imparcial e noticioso, sem filiação partidária e sem receber auxílio, subvenção ou favores de quem quer que fosse, sem interrupção, circulou durante mais de vinte e oito anos, a princípio com uma tiragem de 1.200 exemplares por semana, chegando a ultrapassar a casa dos 7.000. Circulava em todo o Estado de Pernambuco, no Sertão da Paraíba e Zona do Cariri (Estado do Ceará). Falecido no Recife, a 22 de janeiro de 1970, o velho sertanejo de Misericórdia (hoje Itaporanga – PB) casou com D. Maria Dolores Campos, pernambucana de Triunfo, filha de Manuel Martins Vieira e Belisa Campos Martins, esta da família Siqueira Campos, de notória tradição na Baixa Verde (antiga Serra Grande do Pajeú)”.

Em uma das várias visitas que fiz ao Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano, situado na Rua do Imperador, no Recife, descobri uma coleção existente na Seção de Periódicos, a qual é composta pelos jornais publicados nos municípios de Pernambuco nos séculos XIX e XX. Lá encontramos exemplares dos seguintes jornais editados em Triunfo:

- Akelá (1947): órgão da Associação de Escoteiros “Caio Viana Martins” (Triunfo já teve grupo de Escoteiros Mirins), tendo como diretor José do Patrocínio Vieira;
- Correio do Centro (1914): semanário dos interesses sertanejos, independente, literário e noticioso, tendo como redatores Ulisses Wanderley, Liberalino de Almeida e Felinto Wanderley. Escritório, redação e oficinas funcionavam na Praça 15 de Novembro, 26.
- A Pátria (1915): órgão literário e noticioso semanal, tendo como proprietário J. Telles
- Folha do Sertão (1916): hebdomadário de orientação católica, tendo como provável redator principal o Mons. José Landim (Diretor do Ginásio Diocesano de Triunfo que funcionou onde hoje se encontra o Stella Maris) e redator auxiliar Deodato Monteiro. Era impresso na tipografia de José Teles de Meneses, tendo em seu conteúdo o noticiário e os atos oficiais da Diocese de Floresta a qual a paróquia de Triunfo estava agregada à época.
- O Sertão (1919): órgão literário e noticioso, tendo como redator chefe Deodato Monteiro, funcionando a redação e oficinas na Praça 15 de Novembro, 33.
- Triunpho Jornal (1925): órgão de livre opinião, tendo como diretor Dr. José Cordeiro Lima e redatores José Leal Barcelos e João Capistrano de Morais e Silva (Juiz de Direito e pai do compositor e folclorista Rui de Morais e Silva). A publicação contava com a colaboração poética de Emygdio de Miranda (um dos maiores poetas do Sertão), Richomer Barros, Ulisses Lins de Albuquerque (filho de Sertânia, foi escritor, pesquisador, deputado federal, pai do governador Etelvino Lins) além de Petronius (pseudônimo do juiz Morais e Silva) e de Zé da Serra (pseudônimo de Dr. Cordeiro Lima).
- O Imparcial (1927): semanário independente, imparcial e noticioso, tendo como diretor-proprietário Carolino Campos e redator-chefe Djalma de Moura que foi substituído em 1928 pelo Dr. Cordeiro Lima. Contava com a colaboração entre outros dos irmãos Domício e Diocleciano Pereira Lima (filhos de Manoel Pereira Lima, o qual foi prefeito de Triunfo na segunda década do século passado). Diocleciano Pereira Lima é para mim um capítulo à parte. Formou-se em medicina, envolveu-se na Guerra de Princesa ao lado do Cel. José Pereira Lima, foi deputado estadual pela antiga UDN; dá seu nome à Câmara Municipal de Triunfo e, além de também contribuir com jornais do Recife teve dois livros publicados. Faleceu em 1962.
- O Momento (1930): órgão de livre opinião, tendo como diretor Napoleão Xavier; propriedade de J. Teles & Cia. e gerente João Lima.
- A Voz do Sertão (1934): órgão dos interesses sertanejos, tendo como diretor Sigismundo Pinto e redatores Dr. José Cordeiro Lima e Manuel Castilho Campos, funcionando a redação, oficina e administração na rua Coronel Manuel de Siqueira Campos, 4, no 1º andar. “O seu programa essencial – consoante o artigo “Antes de tudo” – é clamar pela união de vistas dos interesses sertanejos, despertando-a na gente do âmago das caatingas, com isenção de ânimos e serenidade. A Voz do Sertão é mais um grito a retumbar do topo da Borborema pelo que o sertão possui de aproveitável e bom”. Diz em outro tópico: “Os que mourejam nas colunas da Voz do Sertão, apesar das dificuldades, estão dispostos a cerrar fileiras com os bravos colegas do sertão, no aperfeiçoamento de uma gente apta a vencer na vida e que só vem servindo de “buxa” nas rusgas políticas e de mostrengo à luz da crítica e da ribalta”. Tinha entre seus colaboradores: Auta Nogueira, Dr. Diocleciano Pereira Lima, Pompílio Wanderley, Dr. Conserva Feitosa, Marçal Paulino, Padre Renato de Meneses, Dr. Morais e Silva, Dr. Ulisses Lins de Albuquerque, Nachor Barros, Padre Severiano Jatobá, Padre Olímpio Torres, Gercino de Pontes, Pancrácio (pseudônimo de Camucé Granja), Dr. Orlando Parahym, Moacir Souto Maior, Luiz Cristóvão dos Santos, José Firmo de Araújo, entre outros. Transcrevo nota da edição de 22 de julho de 1938, comemorativa do quarto aniversário do jornal: “A Voz do Sertão é mantida pelos esforços de três criaturas que se expõem aos maiores sacrifícios, trabalhando dia e noite, pelo progresso do sertão, confeccionando este semanário independente, que pugna pelas causas da região, sem outro interesse senão o de bem servir à coletividade. Esses três trabalhadores são: Sigismundo Pinto, Manuel Bezerra da Silva e José Rodrigues da Silva, respectivamente diretor, chefe das oficinas e tipógrafo-impressor desta folha. O primeiro dirige os trabalhos, substitui o corpo redacional, faz a revisão, etc. e os dois últimos executam os papéis de seus cargos com eficiência”. A edição de 22 de julho de 1954 comemorava o 20º aniversário, sintetizando no seu editorial a luta de um batalhador em prol das coisas do sertão e de Triunfo. “Vinte anos pejados das mais várias vicissitudes, sem um só gesto de fraqueza, ilustram, realçam e até dignificam a nossa luta. Aprendemos que a imprensa é mais que uma atividade humana: é um sacerdócio. Não fosse a irreprimível força de um idealismo que não nos parece impróprio proclamar, haveríamos já sucumbido, moral ou materialmente, nas tantas contingências que se nos apresentaram ao longo da sua existência”.

Eis um exemplo a ser seguido. Que esse idealismo, esse amor à imprensa, à Triunfo, ao interior e ao Sertão não nos falte e que possamos honrar esses triunfenses que elevaram o nome da nossa cidade e a fizeram conhecida por ser o lugar de um povo de vanguarda, de cultura e elevado nível educacional. Fica aqui um singelo reconhecimento à Sigismundo Pinto e a tantos outros que muitas vezes deixamos no esquecimento. Pessoas estas que souberam dignificar Triunfo e nos fazer sentir orgulho e saudade de um tempo que não vivemos. Que nossa geração acorde para que um dia, quem sabe, possamos despertar nas futuras um saudosismo sadio. Essas personalidades da nossa história deixaram sua obra e nos mostraram o caminho. Que tal exemplo nos impulsione a fazer algo no mínimo a altura de nossos antepassados.


FONTE: ACERVO DE ANDRÉ VASCONCELOS
ROTEIRO DE VELHOS E GRANDES SERTANEJOS (LUIS WILSON)
HISTÓRIA DA IMPRENSA (FUNDAJ)
CATÁLOGO DOS JORNAIS PUBLICADOS NOS MUNICÍPIOS DE PERNAMBUCO SÉCULOS XIX e XX - ARQUIVO PÚBLICO JORDÃO EMERENCIANO

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