quarta-feira, 2 de março de 2011

Entrevista com Júlio Ramos, ex-prefeito de Triunfo na década de 70 e 80 #2


A primeira parte da entrevista pode ser vista aqui: Parte I

JET – Quais foram as principais marcas da sua administração? Suas benfeitorias?
JR – Em Triunfo eu construí uma praça em frente à cadeia, outra praça em frente à prefeitura nova, recuperei a praça Monsenhor Elizeu, loteei o que é hoje o bairro do Rosário onde tem a fábrica de polpa, fiz 20 (vinte) escolas, todas as escolas deixei com professoras ganhando seu salário e seu décimo (13° - Décimo Terceiro), calçamento, como também nos distritos de Santa Cruz, que hoje é cidade, deixei posto de saúde me Canaã, em Jericó e em Jatiúca, hoje distrito de Santa Cruz da Baixa Verde.

JET – O senhor acha que a política mudou muito desde que você foi prefeito?
JR – Mudou, mas mudou pra ladrão, pra pior, porque naquele tempo, primeiramente eu fui vereador, ninguém ganhava (dinheiro), trabalhava-se pela comunidade. Eu tinha um carro, não davam nem a gasolina pra andar, as reuniões eram distantes a 4 (quatro) km. Prefeito eu vim ganhar já no fim do ano, a AFIAN agora estipulou um negócio que tem uma remuneração pra prefeito, que parece que era 17 e pouco, era asneira, o prefeito também não ganhava, trabalhava para o povo. E outra coisa não existia o dinheiro que existe hoje. Eram recursos próprios, o que rendia do município era pra você gastar. Triunfo era dos municípios que não rendia nada e tinha fonte de render. Primeiramente a coisa que tinha no município de Triunfo era muita rapadura, tinha muitos engenhos fazendo aqueles tabletes de rapadura, mas era isento de imposto, dentro de Pernambuco você rodava com uma carrada de rapadura o estado todinho, mas quando entrava na Paraíba tinha que pagar, entrava no Ceará do mesmo jeito. Saiu fora do estado tinha que pagar, mas ficava fora do estado. Café tinha uma renda, esses eles carregavam dentro da carrada de Rapadura porque o cheiro da rapadura tomava o cheiro do café e não pagava o imposto, milho e feijão isso não se fala, saía uma coisinha, muito pouco.

JET – Por que o senhor não disputou mais nenhum cargo eletivo?
JR – Porque eu não quis mais, não deu pra mim. Eu não sei se sou uma pessoa honesta ou sou uma pessoa sincera, quem vive de política não dá pra ser assim.

JET – O senhor passou 6 (seis) anos, foi eleito pra 4 (quatro) e estenderam por mais 2 (dois).
JR – Eu doido pra sair, quando dou fé disseram “são mais 2 (dois) anos e tem que tirar”. Eu sofri, era num tempo ruim. Hoje quem sai da prefeitura sai rico, eu fui dos que enriquei a prefeitura e saí de esmola. Porque eu tinha pena do povo chegar na minha porta.

JET – Então o senhor pegou Triunfo numa época onde estava tudo faltando. Época de seca.
JR – Tudo faltando porque foi numa época de 7 (sete) anos de seca, o lado do Pajeú foi tudo, o povo lá em Triunfo tava fazendo barragem naquele riacho, só sobrou uma barragem que ainda hoje tem lá em Jericó, que o dono da terra conservou, ficou ajeitando e não deixou ir embora.

JET – O senhor visita Triunfo regularmente?
JR – Não visito porque não tenho tempo, mas minha família quase toda vive lá.

JET – Quantos anos faz que o senhor mora em Serra Talhada?
JR – Está com 20 (vinte) anos. Eu não morava bem em Triunfo, morava no sítio Brejinho.

JET – O senhor acha que Triunfo melhorou?
JR – Melhorou, sempre, porque aumentou, tem casa por todo canto agora.

JET – Naquela época tinha visitantes ou as pessoas iam lá só a negócios?
JR – Sempre teve visitantes, e depois que fez a estrada foi que ajudou.

JET – Antigamente só o trem, hoje é a estrada Triunfo/ Serra Talhada passando por Santa Cruz da Baixa Verde que movimenta esse turismo.
JR - Isso mesmo, até quando foi feita essa estrada, encrencou num lajeiro que tem chamado Olho D’Água, foram tiradas 4 (quatro) ou 5 (cinco) topografias, uns 4 (quatro) engenheiros, e estrada e essas coisas é concorrência, um vem e tira uma locação por um canto, outro vem e tira. Porque isso jogam pra 3 (três) ou 4 (quatro) companhias, quem fizer mais barato é quem pega. Botaram no jornal que era um engenheiro muito doido, que fazia uma volta danada, e esse que botou por aí disseram que era um engenheiro doido também, botaram um artigo no jornal e essa coisa toda e o engenheiro viu, pegou o jornal e respondeu uma coisa muito interessante, disse que o governo tinha dinheiro pra comprar dinamite pra quebrar os lajeiros do município todinho, agora não tinha dinheiro pra indenizar café e banana dos proprietários. Na realidade o engenheiro optou por o canto que não danificou propriedade de ninguém, por os cantos mais ruins que tinha, num pegou baixa de ninguém, só pegou as serra.

JET - Muito obrigado pela entrevista.

1 Comentários:

Anônimo disse...

PARABÉNS A ESSE BLOG,PELA EXCELENTE ENTREVISTA, POIS RESGAR A HISTÓRIA DE UM GOVERNANTE COMO O SR. JÚLIO , NOS MOSTRA QUE A SIMPLICIDADE ELEVA A VIDA DE HOMEM, DESTACANDO O GRANDE EXEMPLO DE GOVERNABILIDADE NUMA ÉPOCA DIFÍCIL,PRESERVANDO A HONESTIDADE COM OS RECURSOS PÚBLICOS.

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